segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Diário de Classe: um exemplo de autonomia


Há algumas horas, assistindo ao Fantástico, descobri a história de Isadora Faber, que tem 13 anos e mora em  Florianópolis, Santa Catarina. Motivada a denunciar a situação de sua escola e a reivindicar melhorias, no dia 11 de julho desse ano, a menina criou uma página no Facebook Diário de Classe: a verdade, em que começou a publicar fotos, vídeos e textos denunciando a situação precária da estrutura física de sua escola. Isadora conheceu o blog Never Seconds de Martha Payne, uma escocesa de 9 anos, em que a menininha reclamava da baixa quantidade e qualidade das merendas de sua escola. Então, Isadora inspirou-se com o exemplo da menina escocesa e resolveu falar dos problemas gerais de sua escola.

A pequena catarinense Isa, como é chamada pelos seus próximos, estuda na Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, e afirma que sofreu pressões a respeito de sua atitude. Alguns colegas e mesmo professores a repreenderam por estar falando publicamente dos problemas da estrutura física da escola, da bagunça dos colegas e mesmo do ensino de professores. 

Até o momento, 214 mil pessoas curtiram a página da menina, que conta com inúmeros comentários em todas as publicações. O assunto bombou na internet. E várias empresas de comunicação como BBC, Record, Globo e os jornais da região procuraram a garotinha para saber mais sobre sua iniciativa. A ação de Isadora virou assunto das redes sociais, de blogs (como o meu!) e da mídia. E, desde então, deixando de lado as retaliações recebidas no ambiente escolar, a escola começou a passar por reformas. Todos os problemas explicitados na página de Isadora estão sendo reparados.

Particularmente, estou comovido com a posição que esta menininha tomou. A Isadora enxergou o problema e o tornou público, desprezando o fato de que não poderia dar certo. Fico impressionado com a mistura de inocência e ousadia que a Isa tem, que fez da câmera de seu celular a sua voz. E a menina também te conhecimentos políticos: em sua página, afirma que a criou para mostrar a verdade das escolas públicas que os candidatos em época de eleição não mostram. Autonomia: é isso que ela demonstra.

De certa forma, eu me identifiquei com a Isa, talvez seja um dos motivos de eu estar escrevendo esse post. No ano de 2010, no meu terceiro ano do ensino médio, aconteceu uma enchente nos estados de Alagoas e Pernambuco, e resolvi fazer algo como aluno da minha escola. Acompanhei os noticiários e os sites de notícias e descobri que os Correios estavam enviando gratuitamente mantimentos para aquela região. Então, decidi começar uma campanha de arrecadação de mantimentos na minha escola. Em cerca de uma semana de apresentação de proposta e de conversas com a diretoria, consegui uma salinha para guardar as coisas até que pudessem ser enviadas ao Nordeste. Nos primeiros dias, fiquei animado com a ideia: passava de sala em sala e, aparentemente, os outros alunos também se animavam. Porém, na prática, era bem diferente. Eu realmente esperava que todos se mobilizassem, mas apenas algumas pessoas contribuíram. E ficava me perguntando por que é que não se envolviam do jeito que eu me envolvia. Com o tempo fui amadurecendo e entendendo que nem todo mundo é assim. Por isso, estou tão emocionado com a posição que a pequena Isa assumiu. Eu aprendi demais com essa menina. Tu tá fazendo história, guria!

Um apelo aos estudantes: espelhem-se na Isadora e façam o mesmo. Isso é ser cidadão; é ser autônomo; é ser protagonista. Fotografe e grave a situações precárias de sua instituição de ensino e comunidade, torne isso público e divulgue. Fotografe e grave as situações dignas de sua instituição de ensino e comunidade, torne isso público e divulgue. Denuncie, incentive, publique: assuma sua voz. A internet te dá eloquência!

Mas sabe qual é o meu medo diante disso tudo? É que as Secretarias de Educação dos Estados "tirem o seu da reta" jogando a culpa para cima dos diretores e gestores das escolas. É fato que muitos gestores não estão preparados para administrar escolas, mas também é fato que a preparação e formação desses administradores é de responsabilidade das Secretarias. Existem verbas de natureza federal, estadual e municipal para serem investidas? Ótimo, que todos os diretores saibam disso, e saibam como usá-las. Não acredito que a diretora do colégio de Isadora seja a vilã da história. Os vilões dessa história toda estão mais acima, estão no poder. Ainda bem que o caso de Isadora explodiu na mídia; a população, principalmente os alunos e seus pais, precisam acordar. Há infinitos (des)casos como o de Isadora pelo Brasil. Eu estudei em um colégio "judiado" como o de Isadora. Revoltem-se! Mas se revoltem contra o inimigo certo: o descaso com a educação.

E, para os céticos quanto a internet, mais uma prova de que, se usada de maneira sábia, ela pode ser muito eficiente na mobilização política. As revoluções no Oriente, a Lei da Ficha Limpa e agora Isadora Faber comprovam isso.

Vai, Isa!

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